
Desculpem a demora, mas aqui vamos nós para a segunda parte dos noruegueses mais legais que conheço, no plural porque logo após o Arntor o Windir se tornou uma banda no sentido literal da palavra, e não mais os esforços de uma só pessoa.

Arntor - 1998
São nos três últimos álbuns do Windir que o talento do menino se mostra maturado, as variações de estrutura, a profundidade do vocal, a aproximação ambígua entre black metal e o folclore "sogna", tudo em santíssima comunhão e logo após uma introdução de "script", a marcha dos mortos que é "Arntor, Ein Windir" bate e rebate.
A produção, no ponto, abre espaço pra introdução de "Kong Hydnes Haug" e pinço(homenagem à meu antigo professor de história) aquela sempre presente melancolia do Windir. Mesmo que se disfarce de Folk isso aqui deixa DSBM pré-adolescente no chão. O vocal histérico e mesmo assim solene só me dá mais certeza disso. Nem vou entrar no departamento dos vocais limpos...
E aí o bicho pega. Mas o bicho pega. Ele pega mesmo. Por mais que " Mørkrets Fyrste" seja a mais marcante, visceralmente genial e essa porra toda, ela empalidece diante da panorâmica "Svartesmeden og Lundarmyrstrollet". Tudo que Windir é poderia ser sitetizado nessa música não fosse as "aventuras eletrônicas" do 1184. Temos os "build-ups", o estilo icônico de se tocar a guitarra. A melodiosidade dramática, as multi-camadas serpenteando ida e volta na estrutura simples e eficiente dessa faixa que é épica de mais para eu na minha presunção descrevê-la, e eu não fujo disso por covardia, só não sou Goethe ou Dostoiévski. Até por que pra mim, não vejo muita diferença tá ligado..Beethoven, Shakespeare, Tolstói, Valfar, Einstein. É só mais um entre vários. E o Black Metal parece catalisar o gênio, porque dá pra por mais alguns nessa lista. (Haughm, cof cof, Famine, cof cof)
Bem.. "Kampen". O Valfar é muito sem noção de por uma música entre "Svartesmeden..." e "Saknet". Coitada da "Kampen". Presa entre duas das maiores músicas que o homem jamais viu. Uma das músicas "felizes.." do Windir. Outra marchinha. Como eu ia dizendo. "Saknet"!
Numa estrutura que se repetiria exatamente em "Fagning" do "Likferd", Terjão encaixou talvez a mais descaradamente triste música do Windir. Como ele mesmo disse "ouço Saknet e pego a minha escopeta". Tão boa quanto "Svartas.." o álbum poderia ter terminado aqui. Na verdade o álbum podia ser só essas duas, mas não valeria a pena perder "Arntor.." e "Kong.." só porque essas são tão boas. "The Ending" vai e ainda tô com saudades de "Saknet"..Vou pro supermercado e tô com saudades de "Svartasmeden.."
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PS: Tem duas músicas que merecem uma nota hmm...17? Mas ainda assim não são só elas em um ep de 20 minutos. E eu nem preferiria que fosse.

1184 - 2001
O primeiro esforço coletivo do Windir foi o 1184, o álbum começa com "Todeswalzer" que nas palavras do Valfar é a música que ele menos gosta do álbum - por ser muito boa na primeira vez que se escuta mas não crescer em você. Humildemente, discordo, acho que esse tipo de rótulo para um álbum como o 1184 é simplesmente perda de tempo.
Pois bem, com toda uma banda por de trás do menino as músicas ficaram mais pesadas, blast-beats são usados agora e por um acaso extremamente bem vindos. O estilo da guitarra é o mesmo, a bateria de um modo geral melhorou muito. E o vocal do Valfar está no seu último estágio de evolução. Incrível a constante evolução desse desgraçado como ele mesmo diria - "It is a plus, but I expect that people like it because I know I'm genius. If, I mark if, absolutely none liked my music, I would hang myself in my bathroom."
Após o término da faixa "1184" já da pra se ter uma ideia geral do negócio desse novo Windir. Eu gosto, e muito, mas até essa parte do álbum uma das coisas mais marcantes ainda não deu as caras : os toques eletrônicos. E não é na continuísta "Dance of Mortal Lust" que isso acontece e sim numa das três músicas que me fez gostar de Windir há alguns anos atrás, "Spiritlord".
A música é metal pra caralho, riff cheio de malícia, o vocal agressivo, solo de guitarra e uma estrutura simples. Claro dois minutos depois o Valfar mostra do que é feito e que nem tudo é testosterona. Melodiosidade, vocais limpos(que dessa vez são feitos pelo colega "Cosmocrator") essas coisas não se vão tão fácil numa música do Windir. Mas é aos 4:47 que "Spiritlord" encosta lá onde só as melhores músicas encostam. Ouçam e verão.
Na grande "Heidra" o lado mais sintético de 1184 escancara-se (principalmente no final da música), e esse lado junto com o anabolizado Windir de 2001, encaixam-se muito bem, um oásis de água fresca numa cena de black metal noruegues que insiste em idolatrar os velhos mortos ídolos, ao invés de dar asas ao talento que sabidamente tem.
"Destroy" pega a ideia de "Spiritlord" e melhora muito. Riffs pesados, vocais agressivos, letra empolgante e uma sessão sintética/eletrônica que faz um "build-up" incrível. A melhor música do álbum pra mim, e pro Hvall também(Hvall é o baixista, no caso ele tem algumas contribuições pras composições das músicas). A desgraçadamente boa "Black New Age" e a imperdível 66% eletrônica"Journey to the End"(música que fala sobre alguém que morre antes da hora, coincidência filha da puta..) fecham o álbum na mesma nota que o álbum começa. Muito bem.
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Likferd - 2003
Ah..a última gravação com o maldito vivo. No sentido de ser um álbum maduro e completo é o melhor Windir que já existiu. Talvez não tenha os mesmos requintes de genialidade do Arntor e o talento cru do Sóknardalr, nem mesmo inova que nem o 1184, mas aqui no Likferd é como se tudo torna-se um só. E de cara "Ressurrection of the Wild" é o flagrante disso. Da introdução aos primeiros vocais limpos somos pegos numa torrente de informação que decodifica : FODA.
Ao contrário da esmagadora maioria das bandas, os anos não foram cruéis com a guitarra do Valfar, os riffs melódicos que são exatamente o que faz Windir ser Windir não seriam abandonados tão cedos se a fatídica nevasca não tivesse acontecido. Na primeira faixa dá pra perceber que a textura "eletronica" do 1184 nos sintetizadores já não existe, no lugar, textura de instrumentos clássicos. Ambas ideias catalisam o bom Black Metal.
"Martyrium" me parece ser o tipo de música que ouvindo-a, marcharia-se para uma guerra perdida. Uma pesada ode ao sacrifício, com picos de genialidade assim como "Resurrection of the Wild", o que é de um jeito ou de outro a característica dessa discografia e mais ainda nesse álbum. Em "Despot" eu paro pra me perguntar de onde se tira tantos riffs, e porque eles encaixam tão bem, eu acho que é o tipo de coisa que se consegue tendo uma banda por de trás de você. Esse encaixe dos riffs. Outra coisa que pula a minha mente é como o riff principal é menos emotivo que Windir costuma ser, esse tipo de melodia costuma crescer com as ouvidas, e de fato o faz. Música boa pra se ouvir bem alto.
"Blodssvik" mostra a moral do Hvall com o Valfar, a intro no baixo pondo pressão é delicinha, e já nos prepara pros já típicos blasts acompanhados de guitarra melódica. E ouvindo ela eu vejo que os caras dominaram os interlúdios pra esse álbum, curtos e eficientes. Destaque pro final desgraçado de foda.
"Fagning" é provavelmente a melhor música do álbum. Na mesma linha que "Svartesmeden.." e "Saknet" é o tipo de música que se ouve, apaga a luz, deita, se você for compositor se chora de inveja. Vamos ressaltar a noção rítmica que é outra já, acho que isso se deve também a presença de um guitarrista só pra guitarra base. E esses detalhezinhos que fazem o "Likferd" de certa forma o melhor Windir que agente vai ver na nossa vida.
"On The Moutain of Goats" é a ovelha negra do álbum, é foda pra caralho, mas ela já flerta com um experimentalismo que não vamos ver porque esse desgraçado tá a 7 palmos, e talvez seja o único sentido de algo incompleto no álbum, mas incompleto por que nunca mais teremos um lançamento do Windir pra completar essa ideia mais rítmica, mais esquizo de "On The Mountain of Goats". No mais é um flerte com a genialidade. "Dauden" foi a primeira coisa que escutei do "Windir", na verdade ouvi o cover que o Enslaved fez da música, não fosse essa música talvez esse blog nem existiria. Ela é uma síntese super-curta do Valfar como músico e isso já deve ser suficiente pra valer a escutada analítica.
"Ætti Mørkna" me deixa contente. É uma música digna de ser a última página da história de Terje "Valfar" Bakken, e sei lá, pode parecer que pago tanto pau assim só por que o cara morreu, mas não é. O que eu não faria pra esse cara ainda tá produzindo. Talvez por ser a última do último essa música tem um sentimento muito triste. Verdadeiramente triste, não só melancólico. Mas eu acho que ela teria esse sentimento mesmo que já tivessem, hmm, uns 3 álbuns a mais do Windir nesse planeta. E esse com certeza não seria o melhor álbum do Windir. Com certeza seria o mais recente. Por que quando se fala de Valfar e de Windir o bicho pega.
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"Obrigado visitar Meu cantinho do inferno"